Cinco erros policiais que terminaram em tragédia


Os estados da Paraíba e de Sergipe ainda repercutem a operação policial realizada pela Polícia Civil sergipana que resultou na morte do advogado Gefferson de Moura, 32 anos, na cidade de Santa Luzia (PB). Ao que tudo indica, a ação foi desastrosa, e os policiais envolvidos estão presos.

Não tive acesso ao Inquérito Policial do caso e, portanto, não sei os detalhes do ocorrido. E às vezes, nem mesmo o IP é capaz de nos levar até os mínimos movimentos que terminam em mortes nessas horas. O que me faz abordar o tema de hoje é a perigosa sutileza que a profissão policial esconde. Qualquer deslize faz o mundo (vida) girar em um segundo.

12 de Junho de 2000

Um homem transtornado invade o famoso ônibus 147, no Rio de Janeiro, e faz os passageiros reféns. Sentados de onde estamos dá para perceber que os policiais militares tiveram várias oportunidades de ‘neutralizar’ o agressor e concluir a ocorrência. Sabe-se lá Deus – e eles – por que razões isso não aconteceu. Quem morreu baleada mesmo foi a professora Geisa Firmo Gonçalves, uma das reféns, quando o causador de tudo isso estaria a ponto de se entregar. Ele acabou morrendo asfixiado na viatura.

23 de Junho de 2005

Policiais civis do Rio Grande do Norte tinham certeza de que aquela camionete que se aproximava, à noite, era dos assaltantes a quem procuravam. A ‘convicção’ falou mais alto, e os policiais decidiram por disparar. No carro, estavam o então prefeito da cidade de Grossos (RN) e dois auxiliares. O prefeito morreu, e os policiais foram condenados a mais de 17 anos de prisão e perda do cargo.

22 de Julho de 2005

Um mês depois, a melhor polícia do mundo – conforme classificações sem fim na internet – cometeu erros crassos enquanto investigava os terroristas que atacavam metrôs de Londres, à época. “Era só ter prestado mais atenção”. A desatenção se sobrepôs, e o brasileiro Jean Charles de Menezes morreu no lugar do verdadeiro explosivista. Sete tiros na cabeça e ombro. Uma mancha irreparável no impecável uniforme da Scotland Yard.

16 de Novembro de 2017

A brasileira Ivanice Carvalho da Costa, 36 anos, tem uma história ainda pior. De acordo com registros da imprensa, ela foi alvo de nada menos do que 40 tiros disparados pela polícia [também de primeiro mundo] de Portugal, quando o carro em que ela estava foi confundido com o de assaltantes de banco. Naquele trágico dia, Ivanice teria apenas pedido (ou aceitado) uma carona até o trabalho.

16 de março de 2021

Policiais civis de Sergipe fazem uma operação na cidade Santa Luzia, na Paraíba, e acertam vários tiros em Gefferson de Moura. O advogado estaria em um carro parecido com o dos assaltantes que a equipe disse estar tentando capturar.

O indicador no gatilho

Por mais absurdas que as atuações acima possam parecer, eu não ouso fazer juízo de valor sobre nenhuma delas. Cada caso tem suas características exclusivas. Não existe receita de bolo nessas situações. “Só sabe quem passa”.

É óbvio que o rito processual deve ser instaurado. É claro que as punições, quando couberem, devem ser aplicadas. Mas é quase impossível mostrar a você, leitor, o cenário real de como tudo acontece. Sentados de onde estamos, jamais teremos a visão verdadeira dos fatos.

O dedo indicador raspando o gatilho das armas – imagem típica de policiais em ação – revela o quão ínfimo é o tempo para ‘pensar’ nessas horas.


PERFIL

Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande

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