Da prisão à presidência: reabilitado pela Justiça para enfrentar bolsonarismo, Lula venceu eleição mais apertada da História


Mesmo contando com um "apoio" jamais concedido a qualquer candidato à presidente da República, composto por uma coalizão da grande mídia, classe artística, segmentos institucionais e o Judiciário, o petista Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições com uma pequena margem sobre Jair Bolsonaro, a menor diferença da História no Brasil. Com 100% das urnas apuradas, Lula obteve 60,3 milhões de votos, e Bolsonaro, 58,2 milhões de votos.

Para voltar à cadeira de presidente após deixar o cargo em 2010 em meio a uma onda sem precedentes de escândalos que terminariam por levá-lo a cumprir mais de um ano de reclusão em um Curitiba, Lula teve que ser deslavadamente reabilitado pelo Judiciário - e ainda contar com o empenho de um consórcio de veículos de mídia.

Primeiro, para ser solto após ser condenado em todas as instâncias (e não apenas em primeiro grau pelo então juiz federal Sérgio Moro, como alega), Lula precisou que o Supremo Tribunal Federal promovesse uma virada jurisprudencial em relação à prisão após segunda instância. A mudança de entendimento do STF, sob medida, tirou o petista e mais uma miríade de condenados do presídio.

Todavia, a liberdade não resolvia a questão eleitoral, tendo em vista que, com as condenações em tribunais, Lula permanecia inelegível. Foi aí que entrou em cena a maior reviravolta da História do Poder Judiciário do país. Apontando que a vara federal de Curitiba seria incompetente para o julgamento dos processos, o STF anulou todas as condenações que pesavam contra o petista, um feito nunca antes visto na História do país.

Foi assim que Lula, reabilitado (ou "descondenado"), pôde ser candidato à Presidência. Ao contrário do que afirma o petista e o próprio STF, ele jamais foi inocentado, tendo em vista que a anulação atingiu o caráter processual da demanda contra Lula, sem discussão de mérito.

Entretanto, a própria reabilitação não resolvia os problemas de Lula. Os escândalos sem precedentes que marcaram sua saída do cargo de presidente e culminaram com uma temporada atrás das grades ainda eram um péssimo cartão de visitas para um candidato.

Como superar o debate ao ser envolvido em temas como mensalão, petrolão e toda a sorte de maracutaias que quase levaram o país à bancarrota? Isso somado à pauta ideológica do PT, que afronta princípios da absoluta maioria do povo brasileiro?

Foi aí que entrou em cena o consórcio de mídia, capitaneado por veículos como a Rede Globo, Folha e outras empresas. A campanha foi um bombardeio permanente e cerrado a favor de Lula e contra Bolsonaro. O atual presidente, praticamente isolado, enfrentou um cenário de abuso praticado pela mídia jamais visto.

A própria Rede Globo, que sempre manipulou a cobertura política para eleger candidatos - derrotando o próprio Lula por meio dessa prática em 1989 - sempre atuou de maneira incisiva mas com verniz de imparcialidade. Este ano, porém, assumiu de maneira explícita não apenas a ofensiva contra Bolsonaro como o apoio contundente ao candidato do PT. Isso ao ponto de William Bonner, âncora do Jornal Nacional, declarar textualmente que Lula nada devia à Justiça e ainda exercer, na condição de mediador, direito de resposta no debate da emissora com os dois candidatos.

Na outra ponta, a cúpula do Judiciário, representada pelo TSE, passou a atuar de maneira evidentemente unilateral em relação às querelas envolvendo Lula e Bolsonaro. Além do uso de dois pesos e duas medidas no julgamento de ações e pedidos, a Justiça impôs verdadeira censura contra os veículos de comunicação que ousassem apontar as muitas contradições no discurso do petista. O cerne da controvérsia passou a ser representado pela figura do ministro Alexandre de Moraes, que tornou-se, inclusive, uma espécie de super ministro em relação aos próprios pares no TSE e STF.

As redes sociais, espaço que alavancou Bolsonaro em 2018, também atuaram de maneira incisiva para favorecer Lula. Temas sensíveis - e altamente negativos para o ex-presidente - como o aborto, simplesmente passaram a ser censurados por canais como Facebook e Instagram. Quando não foram totalmente bloqueadas, publicações contrariando os interesses do candidato de oposição tiveram seu alcance severamente restringido.

MAIOR ESTRUTURA DE APOIO, MENOR DIFERENÇA DA HISTÓRIA

Ainda assim e apesar de tamanho aparato, Lula superou Bolsonaro por uma margem que é a menor de toda a História das eleições para a Presidência da República no Brasil.

Com isso, o petista voltará à Presidência para um inédito terceiro mandato diante de uma nação politicamente dividida. Da mesma forma, encontrará um Congresso Nacional majoritariamente desfavorável. Nesse caso, porém, Lula tem a seu favor a longa experiência para saber como lidar com deputados e senadores e, tendo enxergado em sua reabilitação e reeleição um salvo conduto para agir conforme achar conveniente, o petista estará livre para utilizar as ferramentas que entender melhor para formar uma base sólida no parlamento.

Inclusive para aprovar toda e qualquer pauta que julgar necessária, mesmo contrariando a maioria da população, afinal, a psicologia de Lula - reforçada pelos contornos da sua vitória neste 30 de outubro - apontam uma figura que se julga dono da consciência nacional e que, agora, de tudo fará para que seu grupo jamais seja novamente apeado do poder.

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