Opinião: "O caso do bancário morto em Campina nos ensina: 'Não há paz sem vigilância'”



Por Saulo Nunes

Eu ainda não tenho conhecimento se existe algum Projeto de Lei (ou algo que o valha) no sentido de estimular o cidadão a implantar sistemas de câmeras de segurança em suas casas e/ou locais de trabalho. “Incentivos fiscais para empresas e equipamentos do ramo”, por exemplo. Algo que barateie o serviço, cujo preço ainda não se encaixa no bolso de muita gente.

Penso nisso desde que comecei a perambular residências, pontos comerciais e etc., à procura de imagens que captassem o ir e vir de assassinos investigados pela Delegacia de Homicídios de Campina Grande, quando nela estive lotado.

Atualmente, o maior desejo de um Investigador Criminal em serviço de rua é ver uma ou mais câmeras (quanto mais, melhor) ‘penduradas’ nos pontos estratégicos dos imóveis. É quase a comemoração prévia do resultado [ainda incerto] de um trabalho investigativo. Sem sombra de dúvidas, um importante aliado da polícia.

Mas o equipamento, por si só, não garante muita coisa. Muitas vezes, a parafernália “não está gravando”. Em outros casos, ela até capta os movimentos, mas a qualidade da imagem é muito ruim. E nas hipóteses mais desanimadoras, o proprietário do imóvel - e, portanto, das câmeras - por algum motivo não quer fornecer as imagens, alegando  que o aparelho está quebrado. Mentira escancarada no semblante do morador. 

A morte do bancário

Com a prisão do suspeito confesso de matar o jovem bancário João Vitor, 22 anos, no dia 06 de junho, dentro do apartamento da vítima, no Centro de Campina Grande, o poder quase indestrutível da ‘imagem’ me veio à mente mais uma vez. Flagrado por ‘várias lentes’, o companheiro/assassino de João não encontrou brechas para negar a autoria do crime. E procurou a delegacia nessa segunda-feira, 14 de junho, para contar sua versão dos fatos. 

Ora, um dos grandes desafios da Investigação é “provar a presença do criminoso no local do crime”, seja por um fio de cabelo solto no ambiente; um testemunho ocular muito forte; ou um belo vídeo de resolução inconteste. 

Não fossem as imagens do apartamento, mostrando o assassino confesso entrando e saindo do local, é claro que os investigadores iriam percorrer outros imóveis da área à procura desse forte aliado. Alguns moradores diriam que o equipamento não estavam arquivando a mídia, e outros apresentariam qualidade razoável/ruim de captação. 

E se, por sacanagem do destino, não houvesse uma santa câmera de segurança que pusesse o assassino no local do crime, é claro que o suspeito não confessaria o delito tão facilmente. Os policiais teriam que adotar outras linhas de investigação, de resultados mais demorados, e muito provavelmente essa história não teria se encerrado em oito dias. 

Eu poderia citar dezenas de casos em que uma câmera de segurança no topo de um muro foi fundamental na elucidação de crimes. Esse singelo aparelho abrevia investigação, é decisivo nos julgamentos e, consequentemente, dá uma força gigante na luta contra a impunidade. 

Não há paz sem vigilância 

Talvez - TALVEZ! - a saúde mental do assassino de João Vitor esteja em um grau tão elevado de perturbação, que ele não se importaria em matar o bancário nem mesmo diante das câmeras de TV, ao vivo. Um estudioso da mente humana explica isso melhor do que eu.

Mas é mais do que comprovada a equação “mais vigilância = menos crimes”. 

Os quatro muros dos condomínios fechados não são nada sem os sistemas de monitoramento, as redes elétricas e os vigilantes fazendo rondas em motos. Os presídios federais usam e abusam de 250 câmeras espalhadas por suas salas e corredores. E até os templos religiosos não se limitam à “fé” e penduram em seus pontos estratégicos as vantagens dessa tecnologia. 

Porque não há paz sem vigilância. 

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PERFIL

Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande

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