HOMICÍDIOS: ou a Índia mente muito, ou pobreza não tem muito a ver com violência - Saulo Nunes


Vou fazer uso, mais uma vez, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) para tentar refletir sobre as ‘causas’ da violência entre os humanos. Afinal, o FBSP é, talvez, a fonte de informação mais procurada pela grande imprensa brasileira, quando o assunto é segurança.

De acordo com o órgão, a Índia é detentora de uma taxa de homicídios que é de fazer inveja a um bom pedaço do planeta. Para cada 100 mil habitantes, aquele país anota 03 assassinatos no período de um ano (estou ‘arredondando’ os dados para melhor entendimento).

Os Estados Unidos, que dispensa apresentações, tem uma taxa de 06 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes. E o Brasil contabiliza 22 homicídios por 100 mil habitantes. Segundo o Fórum, os números estão no sistema de dados do Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas.

Eu não sei quase nada sobre a Índia. Não sei qual o sistema de governo, como são suas leis penais e nunca li nada sobre os presídios de lá. Daquele país, eu só tenho três informações básicas: 1) É o segundo país mais populoso do mundo; 2) A maior parte da sua população é muito pobre; 3) Detém uma invejável taxa de 03 assassinatos para cada grupo de 100 mil pessoas.

Esse cenário confronta fortemente com algumas teorias que apostam demasiadamente na ‘pobreza’ como fator importante na incidência de crimes violentos. No Brasil, somos levados a acreditar que pessoas de baixo poder aquisitivo acabam não tendo muita ‘opção’, a não ser arriscar a sorte no crime.

Eu mesmo, quando percorria os labirintos delicados do bairro do Pedregal, em Campina Grande, à procura de assassinos, testemunhas ou qualquer pista relacionada aos homicídios que investigávamos, vez por outra era dopado por momentos de reflexão que me inquietavam: “Tem como o sujeito ser uma pessoa ‘normal’ morando num lugar desses?”

Mas aí vem a Índia, com todos os requisitos para ser um país extremamente violento – população gigante; alguns grupos milionários e muitas famílias miseráveis; trânsito absurdamente caótico; tráfico de drogas a todo vapor – e nos apresenta míseros 03 assassinatos para grupo de 100 mil habitantes. Metade da violência homicida registrada no pomposo Estados Unidos da América. 

Das duas, uma: ou o governo da Índia mente descaradamente para os estudiosos do Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas, ou aquele formigueiro humano é a prova de que pobreza & violência não fazem uma parceria tão forte como pensamos.

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Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande 

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