O QUE EXPLICA? | A queda surpreendente nos roubos de celulares em Campina Grande e Patos - Saulo Nunes


De forma bem resumida, o ‘segredo’ para diminuir a incidência de crimes é fazer com que eles – os delitos – não compensem o risco ou esforço do criminoso. Não vale a pena, por exemplo, reunir oito ou dez pessoas, roubar dois ou três carros e alugar armas de grosso calibre, para invadir uma cidade e explodir caixas eletrônicos que estejam com pouco dinheiro em seus cofres. É matemática pura, o bandido só vai agir se tiver vantagem.

E ainda que ele consiga, num primeiro momento, botar as mãos na grana que pretendia, a investigação criminal – quando bem realizada – tem como adiar o arrependimento do ladrão para dias ou meses à frente. Quando a captura de assaltantes de banco (por exemplo) se torna rotina, a tendência é a modalidade criminosa apresentar queda em sua incidência.

Ao que parece, algo semelhante está acontecendo com o roubo/furto de celulares nos festejos juninos da Paraíba, depois que a Polícia Civil lançou a Operação Recupera. Para quem eventualmente não saiba: a PC consegue localizar os aparelhos roubados, vai até o endereço e ‘toma’ o telefone de volta, para devolver aos seus donos. Já são quase dois mil telefones recuperados desde que a operação entrou em vigor, em dezembro de 2024.

Parque do Povo

De acordo com dados da PCPB, nos dois primeiros finais de semana de festa junina em Campina Grande foram registrados 241 e 255 ocorrências de roubos e furtos de celulares. No dia 10 de junho, a Polícia Civil apresentou 219 aparelhos recuperados no contexto da Operação Recupera. Quatro pessoas foram presas. Coincidência ou não, no terceiro final de semana da festa, o número de roubo/furto de telefones no Parque do Povo caiu para 36 registros.

Menos 90%

Na cidade de Patos, a festa junina é realizada no espaço chamado Terreiro do Forró. De acordo com a Superintendência da Polícia Civil na região, este ano foi constatada uma redução de 90% no número de telefones celulares roubados no local, nas duas primeiras noites da festa, comparando-se com o mesmo período do ano passado.

Coincidência ou não, a Operação Recupera – que abrange todo o estado – tem tudo para ser apontada como ‘a explicação’ para uma queda expressiva no número de roubos e furtos de aparelhos celulares num futuro breve – e não apenas em locais de festas. É a lógica/matemática do crime: 

1 – Ninguém rouba 10 telefones para usar todos eles;

2 – O destino dos aparelhos é o comércio informal;

3 – Quando a Polícia Civil ‘toma’ o celular, o comprador/receptador fica no prejuízo em dobro: perde o dinheiro e o objeto;

4 – Sem comprador não tem ‘negócio’ que prospere. 

Com tecnologia, inteligência, efetivo policial especializado e vontade de fazer a coisa acontecer, muitos crimes passam a ser ‘sem futuro’ para o delinquente. 

Quem ganha, claro, é a população. 

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Saulo Nunes é escritor, jornalista e policial civil

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