Há alguns dias venho refletindo sobre a prática de visitar. Vivemos num mundo frenético, urgente, onde tudo é pra “ontem” e não nos damos conta de que estamos perdendo o “hoje” e, consequentemente, o “amanhã”. Nessa urgência de viver - diferente daquela “pressa de viver” composta por Belchior na canção “coração selvagem” – estamos nos anulando como humanos, deixando de lado essa prática milenar e salutar para dar espaço ao isolamento, ao enclausuramento.
Fui criado em meio a essa prática. Todos os domingos, religiosamente, todos os filhos de minha Avó a visitavam, mas antes, visitavam-se entre si. Se não aos domingos, aos sábados. Minha casa recebia com certa frequência a visita de meu Tio Antônio e Tia Selizete, inclusive esta, foi quem realizou meu sonho dirigir o carro deles, um belo, charmoso, cheiroso, confortável e inesquecível Monza marrom. Meu Tio Adilson sempre “dava passagem” lá por casa, inclusive morávamos bem perto. Meu Tio Bastos me acordava às vezes aos gritos: “você vai morrer de tanto dormir.”
A visita, é mais que um ato de civilidade e educação. É um ato de FRATERNIDADE, preceito de fé e amor. A Sagrada Escritura nos retrata que o projeto de Deus se deu através de uma visita do Anjo Gabriel a Maria (Lucas 1,26). Esta, por sua vez, foi apressadamente visitar Isabel, a sua prima, que gestava João, o precursor (Lucas 1,39). Aquele mesmo que celebramos recentemente no último dia 24 de junho.
Percebam que a prática da visita tem (ou deveria ter) um quê divino. O próprio Cristo nos adverte a respeito: “Então, o Rei dirá aos que estão à direita: Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim”. (Mateus 25, 34-36).
A visita de se perdeu de vista. Perguntas e respostas frias e, muitas vezes, protocolares, de WhatsApp, não substituem o toque e o olhar presencial contidos em uma visita. Infelizmente não temos mais essa prática. Moramos perto; mas distantes. Moramos distantes e, quando perto; permanecemos distantes. Parentes de perto, ou de longe; distantes. Parentes que residem na mesma cidade, no mesmo estado; distantes. Parentes que moram em outros estados, outros Países; distantes. A distância não está e não se mede somente na quantidade de quilômetros, mas sobretudo na quantidade de desencontros (voluntários e involuntários), na capacidade de se enxergar ainda parte de um “tecido” familiar/fraterno.
---
Vinicius Andrade é servidor público em Campina Grande