Excesso de provas de rua está deixando os campinenses sem ter para onde correr

Corridas de rua explodem em Campina, viram bom negócio, promovem o esporte, mas causam severos transtornos

A promoção do esporte e boas práticas de saúde tem um apelo forte para a realização de corridas de rua. Em Campina Grande, os eventos reunindo centenas de atletas e gente amadora viraram uma febre, inclusive substituindo a moda do beach tênis que havia se espalhado tempos atrás.

Ocorre que,  enquanto o esporte da raquete e da bolinha reúne dezenas em arenas, as corridas ocupam as ruas da cidade com multidões, impactando drasticamente na mobilidade e na rotina da urbe, afetando a vida de milhares de pessoas.

Sim, as corridas são um negócio lucrativo que gera ganhos financeiros e midiáticos para seus promotores e um excelente estímulo às pessoas em geral para superar o sedentarismo. Mas, o excesso de corridas em vias públicas gera transtornos severos.

Mesmo acontecendo, em geral, aos fins de semana, as corridas fecham grande número de ruas importantes – o que não seria um problema maior se os eventos fossem mais esporádicos, ao invés da crescente periodicidade já registrada atualmente.

Além disso, em geral são acompanhadas de carros de som, trios elétricos e algumas até animadas por fogos de artifício, gerando uma pesada poluição sonora muito cedo – já que há concentrações que se iniciam antes das 5h.

Cidadãos que não participam dos eventos, portanto, assim como crianças, idosos, doentes e o trabalhador em geral que quer aproveitar o domingo, estão sendo submetidos a essa exposição, que começa antes do raiar do dia.

E, repita-se, isso não seria coisa de maior significância não fosse a extrema periodicidade com que vem acontecendo. Com um detalhe: há áreas da cidade que, naturalmente, concentram a maioria dos eventos, como o entorno do Açude Velho.

Ou seja, quem não participa e quer exercer o sagrado direito de descansar um pouco mais no domingo, não consegue; se sai de casa para visitar um parente, ir ao parque ou  à igreja, fica preso nas interdições. E não é vez ou outra, como antes, mas com muita, muita recorrência.

Outro fato corriqueiro é a sujeira pesada que fica após esses eventos. Recentemente, internautas publicaram vídeos mostrando o lixo impressionante (formado principalmente por copos de água mineral descartáveis) deixado no Canal de Bodocongó ao fim de uma corrida.

Recentemente, a discussão chegou à Câmara Municipal, onde um projeto de lei deve tramitar nas próximas semanas para tentar regulamentar essas corridas. Mas, há e haverá muita pressão para refrear medidas mais efetivas de mero controle necessário.

Para além de tudo, é evidente que estes eventos têm se intensificado de maneira frenética justamente por ser um negócio. E os bons negócios, sobretudo aqueles que estimulam boas práticas, devem ser até fomentados.

Sem, contudo, ignorar o bem-estar coletivo, o respeito à mobilidade, ao meio ambiente e ao direito da absoluta maioria da população que corre a maratona da vida todos os dias e não pode ser prejudicada pela imposição de modismos (nem os positivos) ou pelas atividades econômicas de alguns.

Que as provas ocorram, mas sob o devido regramento, até porque todo descontrole é indesejável e todo o excesso faz mal. O espaço público não pode ser negócio de poucos, nem a cidade inteira precisar parar para alguém correr.

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Por Lenildo Ferreira 

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