Quando o diagnóstico é errado, remédio vira veneno - Por Lenildo Ferreira


Jhony Bezerra chegou às eleições de 2024 como um nome pouquíssimo conhecido na cidade, praticamente para cumprir tabela como candidato do partido do governador do Estado. 

Com a manobra de última hora de Romero Rodrigues, muitos apostavam em uma eleição plebiscitária, com vitória fácil do prefeito Bruno Cunha Lima já no primeiro turno.

Mas, a história foi outra, como todos sabem.

A forte rejeição a Bruno, a excelente campanha do socialista na TV (sob a batuta do genial José Maria) e o apoio de um conjunto de aliados levaram Jhony ao segundo turno.

Inteligente, com bom desempenho nos debates, Jhony mostrou-se um bom candidato. Atraiu a atenção da periferia, o apoio de uma parcela significativa da população – sobretudo os setores mais insatisfeitos com a combalida gestão Bruno.

O médico não ganhou a disputa, mas se saiu muito bem e tinha tudo para se projetar como uma liderança proeminente na oposição, inclusive com boas perspectivas para 2026 e encaminhando-se como um possível candidato natural, novamente, em 2028.

Só que desde o fim do segundo turno, numa velocidade frenética, o socialista seguiu perdendo capital político e hoje já não tem sequer uma fração do apoio e das relações que reuniu na eleição.

É bem verdade que parte disso deve-se ao fato de que alguns aliados recearam estar criando uma liderança que poderia ameaçar seus projetos futuros – como figuras que devem concorrer à Assembleia Legislativa no ano que vem.

Mas, por outro lado, foi sobretudo o próprio Jhony que pôs a perder o que havia construído. Com uma leitura muito equivocada do que foi o pleito de 2024, o médico mostrou-se empolgado demais.

Mal havia passado o pleito e, ao invés do agradecimento a aliados como o governador João Azevêdo, os Ribeiro e os Galdino, e de nada projetar apressadamente sobre o futuro, afirmando e reafirmando sua unidade para com o grupo, Jhony lançou-se pré-candidato tanto a 2026 quanto a 2028.

E mais: prevendo ser o mais votado para deputado estadual na cidade. Além disso, não descartando uma possibilidade de ser candidato a vice-governador.

Pegou mal. Muito mal. E as participações seguintes do socialista na mídia agravaram o efeito. Aliados foram afastando-se e criando uma forte rejeição ao seu nome. A forma como o ex-candidato tentou liderar a bancada de oposição surtiu efeito contrário.

E Jhony, já sem a relevância de ser o secretário de Saúde do Estado, já desgastado junto ao seu próprio grupo, ainda adotou uma linha estratégica de comunicação, sobretudo em redes sociais, profundamente desnorteada: indo da oposição natural a uma linha de humor crítico deslocado que não colou nem sequer na campanha – e perdeu completamente o timing após outubro.    

Ocorre que o doutor não fez o diagnóstico correto do que o levou ao segundo turno. Superestimou os próprios méritos, não observou o elemento da fortíssima rejeição ao prefeito, conduziu muito mal seu pós-eleição, minimizou a importância dos aliados e interpretou que é o dono dos quase 100 mil votos que recebeu.

E não é. Nem sequer de uma parte disso. Cada eleição é uma história composta de muitas histórias. E os números, por si, não atestam realidades complexas.

Jhony errou o diagnóstico. Aí remédio vira veneno. E o prognóstico é crítico. Quanto de sobrevida política o socialista ainda tem, é difícil dizer. Se não se recuperar, contudo, não será caso de culpar terceiros. 

Terá sido, sobretudo, um atentado à própria vida política.  

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