Eu já venho batendo na tecla aqui na coluna – e em outros espaços de discussões –, mas a pancada que a Polícia Civil e o Ministério Público deram em células da facção criminosa Comando Vermelho na Paraíba, esta semana, exige a veemência do tema: o crime organizado só se combate com MUITA investigação. Com provas técnicas, robustas, capazes de perfurar a ferida dessas facções e fazerem seus líderes sentirem a dor de verdade. Fechar os olhos para isso é, no mínimo, amadorismo por parte de quem diz querer bater de frente com o problema.
A Operação Asfixia, cuja investigação nasceu na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO), abriu caminhos com a Unintelpol/PCPB e ganhou força com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO), é mais um marco na crônica policial paraibana. Pare e pense: quando foi que você, leitor, viu algo parecido neste estado?
Até o momento, são mais de R$ 125 milhões retirados das mãos do Comando Vermelho na Paraíba, por força de determinação judicial, amparada nas investigações da operação. Por baixo, estamos falando de recursos suficientes para comprar mais de cinco mil fuzis. Para quem não lembra (já falei aqui em outros textos), bandidos só conseguem dominar territórios se tiverem fuzis em mãos. De pistola pra baixo, eles nem tentam.
Por mais de dois anos, a Polícia Civil da Paraíba seguiu rastros de lideranças do Comando Vermelho infiltradas no nosso estado; coletou cada detalhe dos alvos que dão as ordens na facção; e reuniu as provas necessárias para fazer – mais uma vez – a Paraíba virar manchete nacional [positiva] na luta contra o crime organizado. Com a colaboração indispensável do GAECO/MPPB, a Operação Asfixia estrangula pontos estratégicos do crime, ao tempo em que faz a sociedade paraibana respirar um pouco mais aliviada, esperançosa por dias melhores no futuro.
Não dá mais para pensar em combater o crime sem ser pelo viés da investigação; da ciência; da prova irrefutável. A sociedade civil organizada, representada por segmentos como OAB, Maçonaria, Universidades, Associação Comercial, federações diversas e a própria Imprensa, precisam entender que não existe outro caminho para desarticular esses grupos criminosos, senão pela investigação criminal.
EM TEMPO
No início de agosto deste ano, durante o I Seminário Estadual da Polícia Civil, no Hotel Garden, em Campina Grande, eu vi e ouvi o coordenador do GAECO na Paraíba, promotor Octávio Neto, enaltecer – com entusiasmo indisfarçável – a sintonia existente entre DRACO, Unintelpol e GAECO neste estado.
Um espectador incrédulo poderia ter interpretado aquelas palavras como mera postura de agradecimento, por parte de Octávio, pelo convite ao evento. Dois meses depois, no entanto, aquela parceria forte anunciada ao microfone para mais de 700 pessoas mostrou a cara para o Brasil inteiro.
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Saulo Nunes é jornalista, escritor e policial civil