Por Lenildo Ferreira
Quem acompanhou a entrevista do empresário Dalton Gadelha na noite desta quinta-feira, 27, na Rede Ita acabou assistindo a mais um capítulo do pesado embate que vem sendo travado entre ele e o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima.
Viu também, certamente, que Dalton exaltou com veemência a própria coragem de se contrapor ao chefe do executivo. De acordo com ele, essa coragem tem sido apontada, inclusive, por várias pessoas da cidade.
De antemão, é óbvio que, em qualquer lugar desse Brasil de tantas mazelas, embates com governantes podem e até tendem a resultar em consequências, como retaliações.
Todavia, parece igualmente lógico que um servidor público que vai às ruas denunciar o atraso de salários, por exemplo, precisa de mais coragem que um grande empresário que, apoiado numa superestrutura jurídica e de comunicação, cobra supostas dívidas.
Uma coisa, naturalmente, não desfaz a outra. Mas é preciso enxergar cada discurso em uma perspectiva mais ampla e realista que a narrativa unilateral – seja ela de quem for.
Ademais, há um ponto chave a ser percebido: depois que a crise com Bruno foi deflagrada, após uma fala de Dalton na Correio FM, o empresário concedeu duas entrevistas (ao vivo e em estúdio) nas quais teceu críticas e acusações graves contra o prefeito.
Ambas, porém, foram “em casa”, na Rede Ita – emissora da Fundação Pedro Américo, da qual Gadelha é presidente.
Aqui, um parêntese: nenhum demérito aos profissionais envolvidos nas entrevistas, claro. O problema não são as pessoas, mas a inadequação de levantar pontos controversos “na casa” (repetindo o termo) do “convidado”.
O fato é que as participações ocorreram apenas em ambientes controlados, sem perguntas desconfortáveis ou inconvenientes.
E, sim, há muitos questionamentos a serem feitos ao empresário que seriam cabíveis, pertinentes e necessários, mas que naturalmente não teriam lugar no formato das entrevistas concedidas e no lugar escolhido por Dalton.
Aliás, o Jornal do Meio-Dia procurou a assessoria do empresário recentemente, pedindo o agendamento de uma participação, mas a resposta foi negativa - como, por sinal, também não houve "disponibilidade" da parte do prefeito para falar ao programa (evitando, igualmente, eventuais questionamentos inconvenientes).
Se a assessoria chegou a informar o empresário sobre o convite, não sei (e até acho provável que não), mas a resposta foi a recusa. Da mesma forma, não se viu Gadelha em outra emissora que não sua rede, falando à sua equipe.
Sem, repita-se, temas indesejados e apenas em ambiente sob controle.
Não se questiona a coragem de Dalton Gadelha, mas, nesse ponto, a incoerência do discurso.
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Lenildo Ferreira é jornalista e advogado, editor do portal Hora Agora e do Jornal do Meio-Dia da Campina FM
