Por Luiz Phillipe Pinto de Souza
O mês de setembro chegou e, mais uma vez, o mundo acompanhou o lançamento do novo iPhone. Uma cena já conhecida: evento transmitido ao vivo, discursos cuidadosamente preparados, expectativa criada com meses de antecedência. E, no fim, um aparelho que traz melhorias, mas raramente grandes revoluções. Ainda assim, o espetáculo mobiliza milhões de pessoas.
A explicação é simples: a Apple não vende apenas um celular. Ela vende experiência, pertencimento e status. Quem compra o aparelho não leva apenas tecnologia; leva a sensação de fazer parte de uma comunidade. E aqui está a primeira lição para a política: não basta entregar, é preciso criar vínculo.
É por isso que a Apple fideliza. Quem entra em seu ecossistema dificilmente sai. Na política, alguns atores tentam fidelizar com a tríade: promessa, propaganda cara e benesse de ocasião. Isso pode até atrair momentaneamente, mas não cria vínculo de pertencimento. E, sem pertencimento, não há lealdade duradoura.
Na vida pública, muitos ainda acreditam que prometer é suficiente. Mas o eleitor não quer só benefícios pontuais; ele deseja sentir que faz parte de um projeto coerente, que exista visão de futuro e consistência no discurso. É o mesmo princípio que mantém o cliente dentro do ecossistema Apple: confiança e identidade.
A segunda lição é a consistência. A Apple não vende milagres; pelo contrário, entrega avanços modestos, mas constantes, que geram confiança. No mercado de consumo, essa é uma prática corriqueira: as grandes empresas lançam atualizações frequentes de seus produtos. Muitos reclamam, mas a verdade é que funciona: gera desejo e mantém relevância.
Na política, porém, costuma-se insistir no oposto: promessas de grandes transformações que não resistem ao primeiro choque com a realidade burocrática da máquina pública. O resultado é sempre o mesmo: frustração e desconfiança.
A terceira lição está na experiência. A Apple se atém a cada detalhe, do design da embalagem ao suporte pós-venda. A política deve aplicar essa prática à vida do cidadão: da fila de um hospital ao transporte público, do atendimento em repartições ao diálogo nas redes sociais. Mas o que se vê, na maioria das vezes, é o eleitor sendo tratado como “cliente vip” durante a campanha e esquecido logo após a eleição.
Por fim, a lição mais óbvia: comunicação. A Apple é especialista em criar narrativas e consegue transformar pequenas melhorias em grandes anúncios. Muitos governos até entregam avanços consistentes, mas falham em comunicar. Outros, com pouco ou quase nada de concreto, conseguem vender propaganda como se fosse grande realização.
O lançamento do novo iPhone é mais do que um evento de tecnologia; é uma aula prática de estratégia. Se a política entender que confiança, pertencimento e consistência valem mais do que discursos de ocasião, talvez consiga construir projetos sólidos.
A provocação que fica é simples: estão oferecendo ao cidadão um projeto confiável e de longo prazo ou apenas um “produto bem embalado”, vendido de quatro em quatro anos, que logo perde o brilho quando sai da vitrine?
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*Luiz Phillipe Pinto de Souza é advogado