A destruição criativa e o futuro da economia: Reflexões sobre o Nobel 2025


Por Carlos Rueda

Campina Grande, 16 de outubro de 2024

O Prêmio Nobel de Economia de 2025 não poderia ter chegado em momento mais oportuno. Ao reconhecer Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt por suas contribuições fundamentais sobre o papel da inovação no desenvolvimento econômico, a Academia Sueca lança luz sobre um dos dilemas mais urgentes do nosso tempo: como equilibrar progresso tecnológico e estabilidade social em uma era de transformações vertiginosas.

O Paradoxo do progresso

Há algo profundamente inquietante na expressão "destruição criativa", cunhada originalmente por Joseph Schumpeter e matematicamente modelada por Aghion e Howitt em seu célebre artigo de 1992, "A Model of Growth Through Creative Destruction". A expressão carrega em si uma contradição aparente: como pode algo destrutivo ser, ao mesmo tempo, motor do progresso? No entanto, é exatamente nesse paradoxo que reside a essência do capitalismo moderno.

Cada inovação que celebramos, do smartphone ao comércio eletrônico, da inteligência artificial à energia renovável, carrega consigo o obituário de tecnologias, empresas e até profissões inteiras. A máquina de escrever cedeu lugar ao computador, que por sua vez viu o surgimento da computação em nuvem. As locadoras de vídeo desapareceram diante dos serviços de streaming. E assim o ciclo continua, implacável, mas necessário.

Neste contexto, a contribuição de Joel Mokyr é especialmente reveladora. Durante a Revolução Industrial, a humanidade produziu invenções extraordinárias muitas vezes por tentativa e erro, sem compreender plenamente os princípios científicos subjacentes. Mokyr argumenta que não basta saber "o que funciona" é preciso entender "por que funciona". Essa compreensão científica profunda é o que permite não apenas inovar, mas criar sistemas sustentáveis de inovação contínua.

Esse insight nos convida a refletir sobre o papel da educação científica e da pesquisa básica. Em tempos de pressão por resultados imediatos e retorno financeiro rápido, lembramos que o conhecimento fundamental é a base sobre a qual todas as inovações futuras serão construídas.

O conflito inevitável

Se a destruição criativa é o motor do progresso, ela também é fonte de profundos conflitos sociais e econômicos. Empresas estabelecidas, com tecnologias que se tornam obsoletas, não desaparecem silenciosamente. Elas lutam, pressionam governos, buscam proteção regulatória. Trabalhadores cujas habilidades se tornam irrelevantes enfrentam não apenas desemprego, mas uma crise de identidade e propósito.

Aqui reside o grande desafio político e social do nosso tempo: como preservar os mecanismos da destruição criativa sem abandonar aqueles que são deixados para trás? A resposta não está em frear a inovação, isso apenas transferiria o problema para o futuro, aprofundando a estagnação. Está, sim, em construir redes de proteção social robustas, programas de requalificação profissional e políticas públicas que facilitem transições de carreira.

Para o Brasil, as lições do Nobel 2025 são particularmente relevantes. Nosso ecossistema empreendedor vive um momento de efervescência, com startups emergindo em diversos setores. Mas inovar em um país de renda média, com desigualdades estruturais e infraestrutura deficiente, exige estratégias específicas.

A cooperação em Pesquisa & Desenvolvimento surge como caminho promissor. Quando universidades, empresas e institutos de pesquisa colaboram, democratizam-se os recursos necessários para inovações disruptivas. Esse modelo de ambidestria organizacional, que equilibra melhorias incrementais com apostas audaciosas, pode ser especialmente útil para empresas brasileiras que precisam competir globalmente sem os recursos de seus concorrentes internacionais.

O preço da estagnação

Talvez a mensagem mais importante do trabalho dos laureados seja um alerta: o crescimento econômico não está garantido. Sociedades que erguem barreiras à inovação, que protegem excessivamente interesses estabelecidos, que deixam de investir em ciência e educação, pagam o preço da estagnação.

Olhamos para o Japão dos anos 1990 e 2000, a famosa década perdida, que se estendeu por muito mais tempo, em parte devido à resistência em permitir que empresas zombies desaparecessem. Vemos países que, após períodos de prosperidade, caíram na armadilha da renda média por não conseguirem transitar de economias baseadas em manufatura para economias baseadas em conhecimento.

O Nobel de Economia 2025 é, numa análise profunda, um chamado à coragem. Coragem para abraçar mudanças desconfortáveis. Coragem para investir em educação científica que só dará frutos décadas depois. Coragem para redesenhar contratos sociais de modo a proteger pessoas, não empregos obsoletos. Coragem para aceitar que empresas que não inovam devem, sim, dar lugar a outras mais eficientes.

A destruição criativa não é apenas uma teoria econômica abstrata. É o processo pelo qual sociedades se renovam, pelo qual o padrão de vida se eleva, pelo qual novos horizontes se abrem. Administrá-la com sabedoria, maximizando seus benefícios enquanto se minimizam seus custos humanos, é o desafio definidor das próximas décadas.

Os ganhadores do prêmio Nobel de 2025 nos deram as ferramentas conceituais. Cabe a nós, cidadãos, empreendedores e formuladores de políticas, encontrar a sabedoria prática para aplicá-las.

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Carlos Alejandro Rueda Angarita 

Consultor Empresarial, Mentor Internacional de Negócios Inovadores e de Impacto Social, Doutor, Cum Laude, em Economia da Empresa, Mestre em Desenvolvimento de Sistemas para o E-commerce, Mestre em Economia da Empresa pela Universidad de Salamanca (Espanha), Administrador de Instituições de Serviço pela Universidad de La Sabana (Colômbia), +10 anos de experiencia em cargos de liderança, CEO do Núcleo Gestor do Ecossistema de Inovação de Campina Grande (E.INOVCG), Embaixador da Economia Criativa da RBCC - Rede Brasileira de Cidades Criativas (UNESCO), Colunista do Portal Digital Hora Agora,  Co-líder do NASA Space Apps International Challenge e do Tech Brazil Advocates Campina Grande.

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