Data Centers e seus “Impactos Concretos” - Leia a coluna de Alexandre Moura


Por Alexandre Moura (*)

Data Centers e seus “Impactos Concretos”

Nos últimos meses, estamos “vendo” o assunto Data Center ganhar as “manchetes” no Brasil, com a possibilidade de investimentos vultuosos, na instalação desses empreendimentos em vários pontos do país.  Na coluna de hoje, vamos tentar analisar esse assunto de uma forma, menos “apaixonada”. A chegada de um Data Center, especialmente os de grande porte, a uma cidade costuma ser anunciada com palavras como: “inovação”, “investimento” e “empregos”. Mas por trás dos números há impactos concretos — sobre a rede elétrica, o abastecimento de água, o meio ambiente local e o mercado de trabalho. Este texto reúne o que a literatura técnica, estudos de caso e relatórios setoriais apontam sobre os prós e contras de instalar um Data Center numa localidade (Bibliografia ao longo do texto). Para iniciar, vale a pena definir “Data Center”: “instalação física centralizada que abriga servidores (computadores), sistemas de armazenamento e equipamentos de rede, com a função especifica de processar, armazenar e distribuir dados. Essas instalações são essenciais para a infraestrutura de TI (Tecnologia da Informação) de empresas e governos, fornecendo a base para a operação de serviços online, sistemas internos, aplicações e processamento de sistemas de IA (Inteligência Artificial)”. Por esta definição, fica fácil de ver que Data Centers são, essencialmente, grandes consumidores de eletricidade.

Data Centers e seus “Impactos Concretos” (II)

A energia elétrica alimenta servidores (computadores), sistemas de refrigeração, UPS (fontes de alimentação ininterrupta) e geradores de emergência. Por isso, instalações de grande porte podem exigir dezenas a centenas de megawatts de potência, com impacto direto sobre a oferta local de energia e a necessidade de reforço de infraestrutura elétrica (subestações, linhas de transmissão e transformadores). Estudos recentes e inventários setoriais, mostram que a eficiência operacional (medida por PUE — Power Usage Effectiveness - Eficiência no Uso de Energia) varia por exemplo, operadores maiores frequentemente alcançam “PUEs baixos”, mas o consumo absoluto segue alto por causa da intensidade de carga dos equipamentos. (Fonte: eta-publications.lbl.gov). Como consequência prática disso surge o problema, se a rede local não tiver capacidade sobrando, será necessário investimento (R$) substancial da concessionária de energia e do empreendedor do Data Center — custo que pode recair, em parte, sobre o município como um topo ou sobre tarifas ajustadas no longo prazo. Além da eletricidade, a água é um insumo crítico para muitos sistemas de refrigeração. Enquanto alguns Data Centers usam resfriamento a ar ou sistemas fechados com baixa demanda hídrica, outros (especialmente em climas quentes) recorrem a sistemas evaporativos ou de torre de resfriamento que podem consumir volumes significativos de água. Nesse item, a literatura científica e relatórios técnicos, apontam variações grandes: consumo direto pode oscilar de praticamente zero (em instalações sem uso de água para refrigeração) até vários litros de água por kWh demandado.

Data Centers e seus “Impactos Concretos” (III)

Em termos absolutos, um grande Data Center pode usar milhões de litros de água por dia, comparável ao consumo de uma pequena cidade em alguns casos. Em regiões com estresse hídrico (como o Nordeste brasileiro), essa demanda pode causar conflito com agricultura, abastecimento humano e proteção de aquíferos — e tem levado a protestos e revisões de licenças em lugares como Texas e Reino Unido. Empresas têm respondido com tecnologias de reciclagem de água, uso de água reciclada ou mudanças para refrigeração a ar quando possível, mas a transparência sobre volumes reais ainda é limitada. (Fonte: San Antonio Express-News, Texas, EUA). Com relação aos “Impactos ambientais” da instalação de um Data Center de grande porte, os principais efeitos ambientais identificados em estudos e coberturas jornalísticas são: “Pressão sobre recursos hídricos” (como mencionado acima): risco de esvaziamento de reservatórios ou sobrecarga de sistemas locais; “Emissões indiretas de carbono”: caso a eletricidade venha de fontes fósseis (a exemplo de termelétricas); “Ruído e tráfego temporário”: obras e entregas repetidas elevam a carga de tráfego; geradores de backup e chillers (refrigeradores) também geram ruído; “Risco químico e de resíduos”: óleos, baterias e fluidos de refrigeração exigem gestão adequada para evitar contaminações. No balanço, o impacto ambiental efetivo depende fortemente do projeto (tecnologia de resfriamento escolhida, fonte de energia, gestão de água, etc.) e das condições locais (escassez hídrica, capacidade da rede elétrica, sensibilidade ambiental). Já em relação a “empregabilidade”, o efeito sobre o Mercado de Trabalho (Recursos Humanos) tem, basicamente, duas fases distintas: a primeira é “Durante a Construção/Instalação”, um grande Data Center costuma empregar “centenas a milhares de trabalhadores” no pico da construção.

Data Centers e seus “Impactos Concretos” (IV)

Estudos setoriais e análises econômicas, citam números típicos entre “1.000 e 1.700 trabalhadores”, no auge da obra para um grande projeto (durante 12–24 meses), incluindo pedreiros, eletricistas, operadores de equipamentos, engenheiros e técnicos especializados. “Esses empregos são em grande parte temporários, porém podem injetar salários e gasto local significativos”. Já na segunda fase, a “Fase de Operação” (empregos permanentes), a força de trabalho direta é relativamente reduzida: Exemplos: instalações de porte médio podem requerer cerca de 20 a 25 funcionários permanentes; Data Centers maiores podem ter algumas dezenas e os “gigantes” tendem a operar com dezenas a poucas centenas de técnicos, dependendo do nível de automação e do escopo de serviços disponibilizado. Funções típicas da força de trabalho: operadores de instalações, engenheiros eletricistas/eletrônicos e de refrigeração, administradores de redes e computadores, equipes de cyber segurança e de segurança “física” e de compliance, logística e limpeza. Relatórios setoriais e consultorias concordam que a maior parte do emprego gerado é indireta/induzida (fornecedores, serviços, construção civil), enquanto os empregos diretos contínuos permanecem modestos. (Fonte optrium.co.uk). Para planos de desenvolvimento municipal, isso significa que o benefício de curto prazo em termos de vagas é grande (construção), mas o ganho de vagas de trabalho permanentes é de “pequeno a moderado” e exige políticas complementares para capturar valor na região (treinamento, fornecedores locais, exigência de contrapartidas). Concluindo. Um Data Center pode trazer investimentos, receita e empregos temporários relevantes, com impactos positivos na economia do local (por um curto período), mas os ganhos em empregos permanentes diretos são modestos comparados ao porte do investimento. Por outro lado, caso o “risco hídrico” e/ou a capacidade elétrica local forem limitados, o custo ambiental e de infraestrutura pode superar todos os benefícios econômicos iniciais. Lembrando ainda que, a maior parte dos equipamentos utilizados são importados (que não gera receita local). Complicado.

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Engenheiro Eletrônico, Mestrado em Engenharia Elétrica, MBAs em e Comércio Eletrônico e Software Business, pela N.S. University (Estados Unidos), Curso de “Liderança Transformadora Global” pela Nova School of Business & Economics (Portugal), Acionista da Light Infocon Tecnologia S/A, Diretor da LightBase Software Público Ltda, Conselheiro-Titular do SEBRAE-PB, Fundador e Membro do Conselho de Administração do SICOOB Paraíba, Co-autor do livro: “Ecossistema de Inovação de Campina Grande, sua trajetória e conexão com o Sebrae Paraíba”, Ex-Presidente da ACCG e da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado da Paraíba e Diretor de Relações Internacionais da BRAFIP.

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